Anotações sobre o Encontro Mundial de Blogueiros – Parte 1
O I Encontro Mundial de Blogueiros ocorreu em Foz do Iguaçu, nos dias 27, 28 e 29 de outubro de 2011. As palestras aconteceram no Cineteatro Barrageiro, nas dependências da Itaipu Binacional.
Encabeçado pela Altercom (Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores da Comunicação) e pelo Centro de Estudos de Mídia Alternativa Barão de Itararé, o evento reuniu 468 participantes de 23 países e 17 estados brasileiros.
O evento trouxe à tona discussões relativas à regulamentação dos usos e democratização do acesso à internet (em primeiro momento), o que culmina na universalização da informação. Nesse sentido, foi defendido o “direito à liberdade de imprensa”, mas, sobretudo “o direito à liberdade de expressão”. Destacou-se a importância das redes sociais enquanto “instrumentos” de troca de ideias e mobilização social, citados como exemplos a recente “Primavera Árabe”.
A abertura do evento aconteceu na Barragem da Itaipu, com show de iluminação e apresentação de música caipira. A organização do evento ofereceu aos participantes um coquetel, com muito chopp, o que agradou o público de forma geral. Todos comemora
No post de hoje, faremos um resumo das palestras que pude acompanhar e amanhã você confere a conclusão dessas anotações.
Experiências na América Latina
No último dia do encontro os palestrantes estavam com o discurso afinado e discutiram a necessidade de o “ativismo nas redes” se concretizar nas ruas.
Jesse Freeston, jornalista e videomaker, que se considerou um infiltrado por não ser blogueiro, trouxe um impactante vídeo sobre a repressão em Honduras. Falou sobre sua experiência na América Latina e sobre o importante papel que as mídias sociais têm na propagação da informação.
Fã confesso de “Paulo Freire”, Freeston alertou para a necessidade de o ativismo não ser apenas “virtual”. Reforçou que para a democratização de acesso à rede, aqui entendida como internet, efetivamente ocorra, é imperativo que o ciberativismo seja, sobretudo, ativismo. Ou seja, é necessário ir às ruas para garantir que todos possam desfrutar das novas mídias.
Essa necessidade da “luta” ganhar as ruas foi corroborada pelo cubano Iroel Sánchez, blogueiro da página La Pupila Insomne e do Site CubaDebate, que afirmou que a internet e a blogosfera não são redes de consumo, mas de conhecimento – ou deveriam ser entendidas como tal.
Já para Osvaldo Leon, que é o editor do site da Agência Latino-americana de Informação (ALAI), a democratização da informação deve ser atrelada às lutas dos movimentos sociais e direitos humanos.
Este também foi o tom da fala do professor universitário Martin Becerra, para quem a democratização da informação será resultado das lutas nos setores populares, pois, para ele, as mídias sociais são massivas, mas seu uso é segmentado.
Já Martin Granovsky, editor Especial do jornal Página 12 da Argentina, ao citar a regulamentação da “Ley de Medios” destacou a importância da universalização da informação. E foi categórico ao afirmar que sempre que se vai em direção à garantia de determinada liberdade individual, se caminha em direção às liberdades universais e isso é uma vitória dos povos.
As experiências no Brasil
Durante a tarde, o tema central era as experiências no Brasil. As conversas giraram em torno da necessidade da democratização da informação, do acesso a ela e do papel das mídias sociais em oposição às mídias tradicionais.
O primeiro a falar foi Carlos Latuff, cartunista ícone da primavera árabe. Conhecido por sua postura contundente, explicou sua participação no movimento e apresentou alguns dados sobre sua carreira. Para ele, também, a revolução se faz por meio das pessoas, e, portanto, são elas que devem criar conteúdo mobilizante. Apontou ainda o fato de que os blogs e twittes pautam a grande imprensa e constituem, atualmente, um contraponto à mídia tradicional.
Os blogueiros políticos Esmael Moraes e Conceição Oliveira – blog do Esmael e do blog Maria Frô e tuiteira – falaram sobre a relação dos políticos com as mídias tradicionais e como as novas mídias são decisivas na busca, seleção e propagação de notícias.
Por último, falou Leandro Fortes, jornalista da revista Carta Capital, blogueiro e membro da comissão nacional do BlogProg. Sua palestra foi uma aula de comunicação social. Ele diferenciou e esclareceu os termos notícia x informação. Fez um alertou ainda sobre a importância do leitor para a criação do conteúdo, enfatizando a não-passividade na recepção, já que é ele também um criador.
Debate: A luta pela liberdade de expressão e pela democratização da comunicação
Para o debate de encerramento, era esperada a presença do ministro das comunicações do Brasil, Paulo Bernardo, entretanto, ele não foi e não enviou representante.
Fizeram parte dessa mesa Damians Loreti, que foi integrante da comissão que elaborou a “Ley de Medios” na Argentina, Jesse Chacón, ex-ministro das Comunicações da Venezuela, e Blanca Rosales, ministra das comunidações do Peru.
Os participantes expuseram as experiências bem sucedidas de seus países. Entre elas o fato de que, segundo Jesse Chacón, a Venezuela é o único país latino-americano a manter seu próprio satélite em órbita.
O representante argentino relatou como a participação popular e acadêmica foi fundamental para a construção do texto da “Ley de Medios”, e, quando indagado se o Brasil poderia “copiar”, diplomático respondeu que o Brasil tem uma realidade diferente, mas que acreditava no sucesso da implantação de modelo similar desde que a participação popular fosse efetiva.
Blanca Rosales apresentou dados sobre a eleição no Peru e como as mídias sociais foram decisivas para a vitória do presidente Ollanta Humala, destacando o trabalho que o atual presidente tem feito para garantir e estender o acesso a todas as camadas sociais de seus países.
Após o debate e respondidas as perguntas do público, foi lida e aprovada a Carta de Foz do Iguaçu, que sintetiza os princípios e reivindicações recorrentes e que pautaram as discussões ao longo do encontro. Assim, foi encerrado com êxito o evento que trouxe a discussão sobre a propagação da liberdade de expressão e a necessidade de liberdade e acesso à informação.